quarta-feira, 1 de abril de 2009

Crónicas de Viagens ou Crónicas de Caminhadas…

Esta crónica chega com algumas semanas de atraso, melhor, com uma caminhada de atraso, em relação à data em que, supostamente, deveria estar publicada e pronta a ser lida com toda atenção e cuidado. (mede as palavras cronista!) Está bem, admito, lida, em diagonal. (vá lá, agora já não está má de todo, mas é bem verdade o que para aí se diz: “presunção e água benta cada um toma a que quer”) Com toda esta conversa, começo a duvidar que haja alguém de bom senso que perca tempo a passar os olhos por esta crónica! (não há nada com a dúvida metódica) Última questão: será que esta crónica vai ser objecto de leitura? (Que fino! Objecto de leitura! Enxerga-te!)
Passemos aos factos, afinal o interesse de uma crónica de viagem ou de caminhada não são os supostas intenções de leitura, (por mais nobre que seja a intenção e o acto) mas os factos. Passemos, então, aos factos, pois, contra factos não há argumentos que valham, ou há? Bem, deixemos essa matéria para os especialistas. (bem dito, não queira o cronista subir além da crónica) Comecemos então a crónica: a noite adormece e os caminhantes do sono acordam. Abrem os olhos, olham o dia, citam Camões: “... a nova luz que ao Sol precede mostrara o rosto angélico e sereno...” e lá vão a caminho do ponto de encontro.
Às 8 Horas da manhã, a bem ver, às 8 Horas da madrugada, recorda-se a todos os que não sabem que a jornada foi a um Sábado, daí a indefinição, a dúvida, manhã ou madrugada? Fiquemos com a dúvida e digamos: às 8 Horas, do dia 28 de Fevereiro, do Ano da Graça de 2009, ou melhor, do Ano da República de 2009, juntaram-se, no local há muito combinado, para mais uma jornada, os membros fundadores e os amigos desta novel associação ou congregação, ainda sem denominação jurídica, mas já conhecida e virtualmente registada como Bot´Andar. (fica para mais tarde o seu registo nos termos e em conformidade com os homens e com a lei)
Continuando: os caminhantes postados em frente ao Café Zinor, (o tal sítio há muito combinado como o ponto de encontro) lá estão aguardando por um ou outro retardatário, embora eu possa dizer, para que conste, que estes caminheiros primam pela pontualidade, algo raro nos dias de hoje. Mas, que vejo eu? Será que estou a ver imagens em duplicado, ou serão, de facto, o dobro, ou quase o dobro dos caminhantes? Verdade verdadinha, esta caminhada com destino marcado: do Poço de Santiago às terras de S. Martinho (Pessegueiro do Vouga) teve a adesão de mais uma boa meia dúzia de amigos do caminhar, ao todo passamos, creio eu, a ser 18 ou 19. Tenho de recorrer às imagens gravadas. (ah! a memória do cronista, pelos vistos, já não é o que era) Já fui ver! E, agora, com o exacto rigor: éramos 17 caminheiros, incluso, no grupo, um especialista pronto a curar alguma mazela do foro musculo-esquelético, por força de algum tropeção ou pé mal colocado. Graças a cada um, tal não se veio a verificar, para bem de todos e para mal do especialista que não teve oportunidade de pôr à prova os seus dotes de curandeiro. (Quero aqui deixar ressalvado que, nos 17, estava, como não podia deixar de ser, o “Wally, mais conhecido pelo “canito”)
O início dos passos do percurso começou no fim, mas que coisa mais estranha! Começar no fim? Perguntam vocês, os leitores. Sim, repito, no fim do percurso anterior, ou seja, no Poço de Santiago, mais propriamente na Ponte sobre o rio Vouga, que nos leva por caminhos de Paradela.
Botas a caminho para todos e asas nos atacadores para alguns, os mesmos, os do costume, os da dianteira. (seguem a velha máxima, “candeia que vai à frente alumia duas vezes”) Não, não é dor de cotovelo, talvez dores de pernas, ou de pés, mas, claro que não poderíamos ir todos lado a lado, a estrada ou a ciclovia não tinha espaço suficiente, sobretudo desta vez com a comitiva a aumentar. Bem, voltemos ao assunto, (mas que mania a deste cronista de meter outros assuntos, outras questões pelo meio) vamos ao que interessa: botas andar que se faz tarde, pois “o caminho faz-se caminhando”, como dizia o outro. E lá foram os caminheiros, cada um com os seus pensamentos, olhando para toda aquela beleza feita de muitos tons e de muitos sons; olhando para o rio que dormindo ainda sonha chegar ao seu destino, tal qual com nós os caminhantes, que vamos, também pensando no destino, não no sentido filosófico do termo, mas no seu sentido mais simples, mais terreno, o destino: Pessegueiro do Vouga, próximo destino e depois Poço de Santiago o outro destino, que é o mesmo, mas não o próximo, mas o mais distante, o do regresso.
Passos atrás dos passos ou passos à frente dos passos lá vão os caminheiros. À frente, eis que aparece, um túnel com a luz ao fundo. Parece-me que qualquer túnel tem sempre uma luz ao fundo, senão não era túnel, era, talvez, um semi-túnel. A luz pode estar mais longe ou mais perto, mas há sempre uma luz a indicar-nos o fim, até apetece às vezes não ver essa luz, deixar tudo como se estivéssemos a ver um semi-túnel. Atravessado o túnel e a luz ao fundo lá continuámos o caminho.
Eis senão quando “vem-nos à memoria uma frase batida” “minha laranja amarga e doce”, canta o poema e canta o caminhante e companheiro desta lides, Manuel: quem a quer, é baratinha, (não a Baratinha do João Ratão, essa é outra história) é ao preço da chuva, (neste caso, ao preço do sol, não faz sentido falar em chuva num dia como este) olhem bem, apreciem esta boa fruta, vamos lá pessoal. Mas, pelos vistos, este caminhante, pode ter queda para muitas coisas, mas para vender laranjas não tem queda nenhuma, e quase que nem tinha queda para se ver livre do produto. Finalmente lá despachou as belas e boas laranjas, (afirmo com conhecimento de causa) que não seguiram e nem fizeram jus ao poema, eram laranjas doces. E tanto eram doces que, mais tarde, mas dentro do horário previsto, o nosso companheiro e caminhante Alberto solicitou os bons ofícios de uma Pessegueirense e lá recebeu uma laranja, conforme se encontra amplamente divulgado no sítio do “Botandar”. Espera, mas não desespera, este cronista que a dita (laranja) tenha sido doce e sumarenta. Deixemos por ora a fruta sossegada, aliás, a bem dizer já não havia fruta nenhuma, para mal dos pecados de alguns, tivessem aproveitado a ocasião. (agora “é tarde e Inês é morta”)
A manhã já ia alta, o usual nestas coisas era escrever que o sol já ia alto, mas para o caso e para os devidos efeitos tanto faz, até poderia ter escrito: os caminhantes já iam com fome, com sede e alguns iam muito apertadinhos, ou dito de outro modo, aflitinhos. E se bem sentiram essa aflição melhor fizeram: uma entrada estratégica no Café, ali mesmo ao virar da esquina, antes da descida para a ponte de Pessegueiro, mesmo pertinho da fábrica de massas alimentícias que, com muita pena nossa, já não nos servirá de muito nestas artes do sustento do corpo. Atravessada a ponte: paragem obrigatória noutro Café, mas para os caminhantes da cabeça do pelotão, que de tão depressa que andaram, nem se aperceberam da entrada estratégica dos aflitinhos no café de cima. (vir cá atrás também tem vantagens, vê-se tudo!)
Tratados os males do corpo, que das coisas do espírito o tratamento ficará para mais tarde, deu-nos para admirar as placas de orientação, segundo o novo acordo ortográfico? - Sªº Pedro do Sul , Sver do Vouga. (economia de esforço ou economia de palavras) Vá-se lá saber o que se passa na cabeça das pessoas. A segunda parte da caminhada é o regresso ao ponto de partida, ou seja, Poço de Santiago, com direito a ver a Igreja; um painel em azulejo com a imagem de Nossa Senhora de Fátima e do Anjo da Guarda, encimado com seguinte inscrição: Junta de Freguesia de Pessegueiro do Vouga; (Santa Aliança do Poder Temporal com o Poder Espiritual) uma placa com os nomes dos filhos da terra que foram combater pela Pátria, devidamente protegida por uma Bateria Antiaérea.
Para trás ficaram as curiosidades e para a frente está a vontade de acompanhar os passos do tempo e alcançar o ponto de chegada, que, por acaso, por acaso não, por decisão, foi, também, o ponto de partida.
Caminhados os passos por mais algum tempo, aconteceu o que há muito se adivinhava, a ligação desfez-se; os da frente esqueceram-se de olhar para os que vinham mais atrás e seguiram confiantes o seu caminho. Os que vinham no segundo pelotão pararam na encruzilhada. A dúvida começou a despertar e instalou-se no seio do grupo perseguidor: os da frente? Onde estão? Afinal quem são os da frente? pergunta alguém. Os mesmos do costume, a Teresa e o Manuel e desta vez acompanhados pela Marta, Isabel e Iolanda. Foram pela direita ou pela esquerda? Ninguém sabia! E agora, como resolver a questão? Entretanto foram chegando os mais retardatários. (há males que vêm por bem) O André, o tal que é o especialista em curar as mazelas do nosso esqueleto, ainda se aventurou e lá subiu a ladeira em busca, não do tempo perdido, mas dos caminhantes perdidos, ou supostamente perdidos. Ao fim de algum tempo lá regressou de mãos abanar. Nada achou! Aliás diga-se, em abono da verdade, que a Beatriz já também tinha ido à procura dos perdidos pelo mesmo caminho e, naturalmente, não encontrou ninguém.
Uma telefonadela resolve a questão, lembrou alguém. Telefona-se ao amigo Manuel que tem sempre o telemóvel operacional. Todavia, desta vez, só o silêncio, nem o som de chamada, nem sequer aquela voz que nos diz, à laia de prémio da consolação: “o número que marcou não está disponível”. Desta vez nada!
A caminho, ó caminhantes, o tempo não espera e é hora de ir embora, eles já lá vão com toda a certeza, aliás, qualquer deles sabe ler as marcas de orientação; palavras não eram ditas e aí abalámos nós caminho a baixo, com destino ao início da caminhada que, neste caso, também será o fim.
Eis a ponte de Santiago ao longe, cada vez mais perto, um último olhar, uma subida para testar a resistência, ou a falta dela e o fim da jornada, com a fotografia da praxe.
Fotografia tirada, ( não pelo repórter Pedro que se esqueceu da máquina) companhia desfeita, mas só por algum tempo, pois está prometida nova caminhada, pensada e programada pelo nosso companheiro Amílcar, mais conhecido, entre nós, pelo arquitecto dos percursos.

de barros

Caminhada n. 6 2009

6º º TOCANDAR de 2009.

Dia: 04 de Abril 2009

Percurso: Baixo Vouga Lagunar (vêr texto abaixo)
A Ficha Técnica:
Distância: 10 km
Tempo Previsto: 02h30m
Desníveis: +/- 10mt
Nível Dificuldade: Baixissima

As Horas:
08h30 Em frente Café Zinor-Esgueira.
09h15 Inicio percurso.
12h00 Fim percurso
12h30 Regresso

Inscrições: Quem se inscrever tem de dizer qualquer coisinha sobre uma ave, àrvore ou animal da zona, da seguinte forma:
se o nome da pessoa começa por "A" pode falar na Águia-sapeira, se por "C" na Carriça...etc

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E a nota habitual p/ a boa disposição, retirada do famoso "Dicionário Porrinha":
Bugiar – passear até ao Bugio.
Burrego – carneiro que tem a mania que é burro.

1abrç
Amílcar

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Texto

O trajecto do percurso pedestre desenvolve-se em zona de clara dominância do «Bocage», não o "Manuel Maria Barbosa du Bocage"mas...vêr abaixo.

"O «Bocage» corresponde a uma unidade de paisagem bastante peculiar e de rara beleza caracterizada pela compartimentação do espaço rural. Esta compartimentação é feita por sebes vivas as quais são compostas por Salgueiros, Amieiros, Carvalhos, Pilriteiros e Sabugueiros, entre outras. À compartimentação vegetal junta-se também uma densa rede de valas o que faz com que os campos sejam muito pequenos. Neste habitat a diversidade faunística e florística é elevada.

Ao longo do percurso, por entre campos e sebes, é possível observar, e sobretudo ouvir, uma elevada diversidade de espécies de aves, nomeadamente o Melro, a Carriça, o Pisco-de-peito-ruivo, o Chapim-real, o Chapim-azul, o Estorninho, o Guarda-rios, e a Toutinegra, entre muitas outras."-Quercus

e majestosas Águias sapeiras, o Milhafre-preto, o Pato-real,Garças-brancas, narcejas, bicos-de-lacre, maçaricos, diversas espécies de gaivota, mergulhõres, rolas-do-mar

e ainda a Fuinha-dos-juncos, ....