sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Crónica de viagens ou crónica de caminhadas

No poupar é que está o ganho”, ditou o caminhante José Carlos que, por via do ditado, não se poupou a esforços para ganhar o almoço, dois santieiros de se lhe tirar o chapéu, vê-se que tem queda para as finanças, quanto não vale ter em casa uma especialista em matéria financeira?
Esforços feitos, almoço no papo, cantou o esforçante, sob o olhar e ouvido atento da caminheira Teresa Martins, mas deixemos, por ora, a cantata na boca de quem a cantou (sem demérito para o cantador) e avancemos passo à frente de cada passo até ao achamento do almoço, que se achará, lá mais para a frente, na crónica e no tempo, mesmo à vista da ponte de São João do Loure, testemunha silenciosa deste e de muitos outros achados e, quem sabe, perdidos. Mas voltemos, então, ao tempo e espaço desta caminhada, com os primeiros passos em Angeja, os últimos em Angeja e os do meio em São João do Loure. Eu disse “ao tempo e espaço desta caminhada”? Se assim o disse, em boa verdade, o tempo e o espaço da caminhada não começaram em Angeja mas no café Zinor. ao sexto dia, que já foi de trabalho (que o diga Deus) e que, agora, é de descanso e de caminhadas. (espera este cronista que não venha, deste dito, polémica com a Igreja)
Afinal, a tradição ainda é o que era, à hora marcada, 8 horas 30 minutos (TMG/TME) ou 9 horas e 30 minutos se nos guiarmos pelo meridiano de Berlim ou 7 horas e trinta minutos se seguirmos a hora dos Açores, lá estão os Caminheiros aguardando o sinal do Grão Mestre, Caminheiro Alberto Pires da Rosa. Sinal de partida, claro! Mas de que sinal é que vocês estavam à espera? Nada disso, longe de mim ideias subversivas, tudo às claras, como o dia da caminhada que contrariou os mais pessimistas, os que vêem chuva em qualquer nuvem passageira, o lugar desses não está reservado, aliás, dos fracos não reza a história e esta, com certeza, deles não rezará. Com efeito, no Olimpo Etéreo lá estava Apolo em toda a sua luminosidade, ofuscando Eolo e Neptuno. Organizada a logística, dado o já dito sinal de partida, eis a caravana em marcha até às terras de Angeja, nome que vem do grego, segundo o caminheiro Manuel Sousa Pinto, Dono e Senhor daqueles domínios, onde se fez o natural reabastecimento, numa das pastelarias do burgo, Orquídea de seu nome, pois “quem vai para o mar avia-se em terra”, nada mais certo, o esquecimento do dito já trouxe dissabores aos esquecidos. Aviados, lá se foi pondo um pé à frente do outro ou uma pata à frente das outras, consoante a espécie a considerar. Atravessada a ponte é tarde para voltar atrás, “o caminho faz-se caminhando” e sempre para frente, pensam vocês. Pensam vocês? Sim, não há certezas de nada! Premonições ou adivinhações deste cronista? É o que se contará no futuro e para que de futuro conste. Caminheiros eram doze, independentemente das espécies em marcha, e, por falar em marcha, lá fomos por caminhos conhecidos e, também, por ínvios caminhos, ou por semideiros escusos, como diria o Cronista Mor Fernão Lopes no Prólogo da Crónica de D. João Primeiro. A seu tempo se verá e dirá que caminhos são estes, mas até lá ouçamos o chilrear dos pássaros, o coaxar das rãs, admiremos a beleza ante os nossos olhos, olhemos as delicadas flores amarelas das abóboras a abrirem-se à vida e pasmemos com tanta beleza, mas também ouçamos o caminheiro Amílcar Carvalho e Silva: “por este andar não há bilharacos no Natal”, sentença dum conhecedor destas coisa da natureza que, por estar confusa até dá flor no Outono e, quiçá, abóboras na Primavera.
O Sol já tinha há muito deixado o Oriente e os caminheiros há muito as terras de Angeja quando os conhecidos caminhos, de repente, a lado nenhum vão dar. Primeira paragem e, pelos vistos, forçada, os engenheiros definiram os objectivos, mas esqueceram-se das estratégias. Mas engenheiro é engenheiro e do nada nasce a solução: passos que pisam os passos já feitos e outro caminho se acha e lá continua a caminhada pelo verde dos campos e pelo verde da esperança de não pisarmos duas vezes os mesmos caminhos, para isso temos o Canito, representante máximo do ir e voltar. Aqui para nós que ninguém nos ouve ( só lê) parece-me que ele já desconfia que o estamos a imitar. Só nesta caminhada, ah! engenheiros, pisamos os mesmo caminho não uma, nem duas, nem três, mas, seguramente, quatro, e mais não conto para não falar como falam as más línguas que juraram, a pés juntos, que, no caminho para Angeja, estávamos a ir via São João do Loure. Afinal, eram mesmo más línguas, não se confirmou tanta certeza científica, porventura uma aproximação. Eram só bocas ou talvez não, que o digam as pernas, que só contavam com uns míseros 10 km e, novamente, as bocas que vão apregoando que já cá cantam, nas pernas, claro, uma boa quinzena, no final da jornada, leia-se.
Voltemos atrás, não no caminho, que desse já temos a respectiva conta, mas na crónica, e sentemo-nos (figurativamente, pois não fomos convidados) à mesa, não do orçamento, isso é para outros figurões, mas do José Carlos e da Teresa Martins e saboreemos uns santieiros salteados, que são de trás da orelha, que o digam estes caminheiros e a família que juntaram o útil ao agradável, como soi dizer-se. Mas afinal que conversa vem a ser esta perguntam vocês? De que fala o cronista? Ah! Não sabem? Vão distraídos e não notam os pequenos grandes pormenores das caminhadas. Era o que faltava, para isso existem os cronistas, dizem vocês. Está certo, cada um vê o que quer e à sua maneira, mas depois não se queixem de que não viram e de que não sabem. Bem, deixemo-nos de especulações filosóficas e regressemos aos santieiros, vulgo cogumelos, míscaros e sei lá que mais, confesso que não sou um estudioso da matéria, O que sei é que estava a caminhada a aproximar-se da ponte e eis que lá estavam eles em toda a sua natureza, a desafiar os entendidos, como que a dizerem: levem-me e regalem-se. Claro que já os da dianteira por eles tinham passado, mas nada viram, ou nada ligaram. Contudo, o verdadeiro conhecedor, não podia ficar na indiferença, seria um crime de lesa Majestade, ali mesmo à mão de semear e, para mais, de borla, sempre se poupam uns cobres. E se assim o pensou melhor o fez. Lá foram os dois santieiros parar primeiro para o saco e depois para a mesa, em forma de almoço, claro, mudança de espaços tão só! Diga-se que não vão para a mesa do Rei, mas bem podiam ir, tal a beleza dos exemplares, não deslustrariam real mesa!
Bem, deixemos esta famíla entretida com o achado e voltemos aos passos, não os perdidos, mas os ganhos, que serão contados a final, e dão prémio, um repasto à altura dos caminheiros e dos caminhos, pois são os caminhos que fazem os caminheiros. Ele há caminhos e caminhos e estes foram menos caminhos e mais descaminhos, que não são sempre maus, refira-se que estes descaminhos até deram para o repóter fotográfico e realizador, Pedro Barros, reflectir sobre a figura da anamnese no discurso literário, sem prejuízo do cumprimento do seu dever profissional, como, aliás, se pode comprovar no sítio do Bot´andar.
A caminheira Mariana Pires da Rosa é que não deu por mal caminhados os passos perdidos, para ela os passos foram sempre os achados, não passou pelo tempo dos descaminhos, andava noutra! E enquanto alguns caminheiros procuravam desatar os nós que outros tinham atado, ela voava, para onde não sabemos, nem nem ao caso vem a propósito.
Por falar em propósito, voltemos ao propósito desta crónica e deixemos voar quem quer. Então, continuemos: atravessada a ponte, os caminheiros deixaram o verde da erva, o cheiro da terra, o som do vento e dos pássaros e pisaram a dureza do alcatrão, mas por pouco tempo, que isto é malta mais virada para a natureza. Refira-se, a propósito, que outra coisa não seria de esperar: caminhar no alcatrão já basta no dia-a-dia, que o diga o canito, que até se rebola pelos caminhos, que cheira a terra e cheira outras coisas, tão naturais como a dita. Perguntem-lhe se faz o mesmo pelas avenidas de Esgueira, está quieto ó mau, ele é cão mas não é tolo, sabe o que é bom, por isso, não falha uma caminhada e se falhou alguma não foi por vontade própria.
Apolo há muito que deixou o Olimpo e já vai a meio do seu percurso e nós já vamos no fim do nosso e já vemos a olho nu a ponte de Angeja, é hora de chegar e é hora de partir …, até à próxima caminheiros.


de barros

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Bot'andar em vídeo, caminhada 11

Aqui está um vídeo que preparei com alguns passos da caminhada nº 11, que servirá para complementar as fotos e a crónica (ou não!)



(Atenção, não me estava a referir à "não-crónica", mas sim à "não-complementaridade" do vídeo! hehe)

Avante, caminhadas! ;oP

domingo, 1 de novembro de 2009

Fotos da caminhada nº 11

Cá estão algumas fotos da 11ª caminhada Bot'andar...
(Desta vez vão a tempo, mesmo antes da crónica!)

































Aqui estão as placas que confirmam a realização da caminhada...







(Contra fotos não há argumentos!)

Todas as fotos da caminhada, AQUI...


Até sempre, caminhadas! =)