quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Crónica da caminhada nº1 2009

O dia é o dez de dois mil e nove do mês de Janeiro, a hora é… ainda não se sabe ao certo mas talvez… será que "…o destino marca a hora…", mas desta vez o destino não riscou nada, aliás, dito de outra forma, quiçá, mais apropriada, não marcou nada. Mau! Então riscar não é a mesma coisa que marcar? Quem risca deixa sempre a marca, o que quer dizer que, quando se diz, " não marcou nada", diz-se que não deixou lá nenhuma marca, isto é, não riscou nada. Bem, vamos lá assentar de uma vez para sempre, riscar é sinónimo de marcar.

Afinal se o destino não deu nenhuma mãozinha, ou seja, não marcou nada, quem foi o marcador? (aqui para nós, com toda a certeza que não foi nenhum jogador do nosso Glorioso, senão, a esta hora, não estaria aqui o narrador com esta conversa, ainda estaríamos na sexta-feira à noite.)

Analisada a questão ao pormenor, concluímos que os marcadores foram dois, ou, mais propriamente, um, o outro foi mais um contestatário.

Assim, a partida de Esgueira, junto ao Café Zinor, ficou, nos termos do disposto pelo Comandante desta jornada, Amílcar, (1) de seu nome, marcada para as nove horas (T.M.E.), embora com o voto contra do caminheiro, Manuel, o tal, o contestatário que riscou para as oito horas e trinta minutos. (T. M. E).

Parece ao narrador que este Manuel não conhece o popular ditado "não é por muito madrugar que amanhece mais cedo".

Entre marca e desmarca, a partida ficou para as nove horas (T. M. E.) com uma pequena ressalva, se chover ninguém sai da cama. (parece que houve alguém que rezou antes de se deitar, mas não foi atendido, pudera, é como aqueles que só se lembram de Santa Bárbara quando troveja.)

Adormeceu a noite e o dia acordou bem desperto, ou quase desperto, uma ou outra nuvem a ensombrar os olhos.

Entre as oito horas e cinquenta e nove minutos e as nove horas (T. M. E.) foram chegando os "Companheiros da Estrada", alto lá, em abono da verdade, temos de dizer que o contestatário chegou antes, à hora exacta não sabemos, mas que foi antes das oito e cinquenta e nove (T. M. E.) foi. Vencido mas não convencido.

O percurso que fora previamente aprovado e dado a conhecer a todos

os interessados começou a ser posto em causa. (começa mal) Uns, queriam que se mantivesse o acordado, ou seja, Farol da Barra até Praia da Vagueira, doze quilómetros bem medidos, por um Engenheiro, não de estradas mas de comunicações, mas para o caso tanto vale, outros, queriam que o acordado deixasse de o ser e passasse a ser, Barra até metade do percurso e regresso ao ponto de origem. Esta tese não vingou, acordo é acordo.

Este acordo, isto é, o primeiro, o original, obrigava a uma actividade de logística, carro para aqui, carro para acolá, ou seja, uns carros iam para a

Praia da Vagueira e outros ficavam na Barra, mas já estava tudo pensado.

Isto de termos engenheiros na tertúlia, até parece que não é mau de todo.

Ah! Mas que cabecinha a minha! Faltou confirmar que o sol é bom companheiro, e esse sim, tem a certeza que chegou antes da hora aprazada e contestada, (tem a certeza ele e nós também temos, embora da hora exacta nada saibamos)

Vestidos a preceito, o tempo assim convidava, os sete magníficos, não os do filme, mas os da caminhada, lá se distribuíram pelos veículos de serviço, três ao todo, a gasolina está mais barata, mas ainda pesa no bolso, apesar de pesar menos no depósito.

Uma espera, mas nenhum telefonema, nenhuma mensagem, nenhuma sugestão ou reclamação dos ausentes, não em parte incerta, mas com toda a certeza na caminha, dos fracos não reza a história.

Escoltados uns pelos outros, o espaço entre a pré-origem e a origem ia diminuindo a olhos vistos, e, minutos depois, eis-nos chegados ao ponto de encontro, entre nós e nós próprios, junto ao Café Barra 89, local que também já estava previamente definido.

Começou então a funcionar a logística, quatro caminheiros ficaram a tomar um cafezinho, enquanto os veículos e os respectivos condutores arrancavam a toda a brida para Praia da Vagueira, onde deixaram dois veículos, sem nenhum condutor, claro, e regressaram os três num dos veículos de suporte avançado, longe vá o agouro, está tudo de perfeita saúde, o veiculo é que teve de avançar mais dos que os outros, foi da Barra à Vagueira e regressou à Barra.

Um cafezinho e um bolinho para os condutores, os que ficaram a penantes, já se tinham aviado, quem vai ao mar avia-se em terra.

A partida tem mesmo de ser do Farol e não do Café, gritou do alto do seu comando o capitão desta aventura, o combinado tem de ser cumprido e ponto final (aqui vai ele).

Fotografia dos sete magníficos, a máquina não tira sozinha, mas há sempre um fotógrafo de ocasião para salvar situação (rima e é verdade).

Eram exactamente dez horas e um minuto do dia dez de Janeiro do ano da graça de dois mil e nove, quando os membros efectivos da tertúlia Bot´Andar se botaram mesmo a andar pelo passadiço, ainda branco de gelo, mas já aquecido pelo nosso companheiro convidado, o Sol.

Ainda não nos tínhamos habituado ao caminhar do passadiço quando uma incursão à direita nos atirou para o areal. Então porque não continuamos pelo passadiço conforme o combinado? Perguntou uma voz, que, pelo tom grave, era de um dos elementos masculinos, mas nem resposta teve, decidido estava pela Teresa, areal e mais nada, onde há galinhas não cantam galos, está criado novo ditado, em substituição do outro, pelo menos neste dia e nesta caminhada, veremos para a próxima, ó caminhantes.

Passo à frente de cada passo e lá fomos com destino traçado ou marcado ou riscado, conforme queiram Vossas Mercês.

À frente, a Teresa, que com grande eficiência levava consigo todos os outros, uns mais perto, outros mais longe, mas todos dentro do campo de visão uns dos outros, não vá alguém perder-se e logo na primeira caminhada desta nova versão.

Fotografia para aqui, fotografia para acolá, gaivotas no mar e no ar, um transeunte marítimo, um canito, (palavra que quer dizer o mesmo que cão, mas dito de maneira mais carinhosa) outros passeantes e sempre o sol por companhia e sempre no comando a Teresa, acolitada pelo Manuel e pelo Alberto, dois jovens valorosos, que não deixam os seus créditos por mãos alheias, ou seja nas mãos dos outros três, que teimavam em não se quererem destacar, (acaso, quiçá, porventura, talvez guardando-se para a recta final), sabe se lá com que intenção, alias, como sói dizer-se, de boas intenções esta o inferno cheio

O fotógrafo da expedição, (nome sonante) esse não entra nos cálculos do vai à frente ou do vai atrás, tem desculpa, procura o melhor ângulo, a melhor luz ou a contra-luz, o melhor boneco, a foto da sua vida, o registo na película do desenho feito na areia.

Sempre em frente, pelo areal, mais à esquerda ou mais à direita, mais longe do mar ou mais perto, por aqui ou por ali, muitos trajectos escolhidos ao sabor da consistência da areia, não há maneira de aparecer o passadiço.

Agora são rochas, a vingança de um dos que vinha na cauda da expedição, o outro Alberto, que ultrapassou quase todos, um verdadeiro trepador, mas, ó azar, as rochas duraram pouco, mais areal, refeita a classificação.

Da dianteira da expedição foi gritada uma informação: mensagem!? Reunidos à volta do mensageiro Alberto fomos escutando, "com este frio é maluco…", afinal dos friorentos não rezará a história, nem esta crónica. (com dedicatória ao Paulo, sempre ficas na crónica)

Mais uns veraneantes, mais uns canitos e um oásis ou o que resta dele, se são que alguém alguma vez chamou oásis àquelas dunas com rara vegetação. Bem, deixemos a terminologia e os conceitos para outra altura e entremos nas dunas e na folhagem, à procura de uma saída para a estrada.

Se bem pensamos melhor fizemos, pensava eu e todos os outros, mas o tiro quase que nos ia saindo pela culatra, (o quase não pertence ao ditado), mas fica lá bem, pois o tiro não saiu, mas saímos nós com alguma dificuldade, embora a dificuldade fosse maior para seis do que para o sétimo expedicionário, mais concretamente expedicionária, a Teresa.

Eu conto: atravessadas as dunas e a folhagem, fomos surpreendidos por uma vedação a todo o comprimento, que impedia qualquer ser composto de matéria de atravessar, só aos fantasmas e aos espíritos tal veleidade era permitida, a menos que se encontrasse uma solução. Mas, como a necessidade aguça o engenho, lá foi o engenho foi aguçado: com um pequeno esforço, nada comparado ao esforço de procurar outra saída, foi levantada uma parte da rede, no sentido vertical, de baixo para cima, (quase que parece que estamos numa aula de Física a enunciar parte do princípio de Arquimedes) e rolar sobre o próprio corpo deitado no chão em posição horizontal e deixar a propriedade dita privada e entrar no domínio público.

Porém, diga-se que este processo, se não teve qualquer falha ao nível da execução, falhou ao nível da documentação, o fotógrafo, de baptismo, Pedro, esqueceu-se de documentar a execução da ideia, embora tivesse registado o momento em que ela surgiu.

Não sabemos se o ladrar dos canídeos ou a sua eventual aproximação foi um obstáculo a filmagem do rolar do corpo sobre si mesmo.

Mas, alguns metros mais à frente uma abertura na rede permitia a passagem, sem o inevitável rolamento, aliás ampla e devidamente comprovado pela Teresa, que perdeu uma boa oportunidade de aguçar o engenho e demonstrar que, também, além de caminheira é roladora.

Encontrada a estrada, pés a caminho e paragem só para umas fotos, que comprovam o que aqui se afirma.

Doze horas e quinze minutos (T. M. V.) chegada ao destino, Praia da Vagueira.

Mais tarde alguns minutos, rumo a Aveiro, mais carregados com mantimentos adquiridos no comércio tradicional pela Purificação, a outra caminheira.

Por fim Esgueira.



de Barros



(1) Não confundir com o Comandante General Cartaginês Amílcar Barca, pai de Asdrúbal e Aníbal ou Hanibal, também conhecido na História por Aníbal ou Hanibal dos Elefantes, por falar em elefantes, não esquecer o Elefante Salomão, mais tarde renomeado Elefante Solimão. (consultar a obra do nosso Prémio Nobel, José Saramago, A Viagem do Elefante)

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